Comunidade científica reage contra mudanças no Código Florestal
comunidade científica reage contra mudanças no Código florestal
Flavia Bernardes
Uma das mais prestigiadas revistas científicas do mundo, a Sciense, publicou um artigo assinado por seis pesquisadores brasileiros, alertando sobre os riscos dos projetos que alteram o Código Florestal, em trâmite na Câmara dos Deputados. Para eles, se aprovada a matéria, representará um revés ambiental de proporções irreversíveis para o País.
O artigo representa a sequência ao movimento que pesquisadores e entidades científicas nacionais deflagraram logo que a proposta de reforma do Código Florestal foi apresentada.
Conforme publicado no portal da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), dois professores da instituição assinam a carta acolhida pela Sciense. São eles: Carlos Alfredo Joly e Thomas Lewinsohn, ambos do IB-Unicamp.
Lewinsonh, que é presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (Abeco), afirma no artigo querer chamar a atenção da opinião pública em geral para os equívocos contidos nos projetos de lei e seus impactos. Entre os pontos que precisam ser esclarecidos, segundo o artigo, é o que classifica as críticas feitas à matéria como visões retrógradas sobre o agronegócio.
Na prática, os pesquisadores afirmam que não se trata de defender a preservação em detrimento das demandas sociais e econômicas do País, como é afirmado por quem defende o código, mas sim de defender uma visão mais ampla de um projeto que não atende aos requisitos elementares de preservação, dentro do conceito de sustentabilidade proposto mundialmente.
O projeto de alteração do Código Florestal que ainda passará pelo Plenário da Câmara dos Deputados e, depois, Senado, tem, segundo Lewinsohn, potencial para gerar consequências gravíssimas não apenas às áreas de florestas, que poderão dar lugar a novas faixas de produção agrícola, mas também a outros biomas, como cerrados e áreas de várzeas.
Os s pesquisadores tentam deixar claro a atual legislação não sufoca a agricultura, não ameaça a soberania alimentar do País, como tentam justificar o setor ruralista.
A adoção de técnicas mais eficientes já proporcionaria avanço à agricultura, sem promover a destruição de áreas de florestas, conforme estudo apresentado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz Queiroz” (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP).
Os pesquisadores reforçam que em nenhum momento a comunidade científica foi ouvida durante o trabalho de formulação da proposta de reforma do Código Florestal.
Também assinam a carta publicada pela Sciense os seguintes pesquisadores: Jean Paul Metzger, Luciano M. Verdade, Luiz Antonio Martinelli e Ricardo R. Rodrigues que juntos reivindicam uma discussão mais ampla, que contemple toda a sociedade. Medida que tem apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC).
A revista Sciense é publicada pela American Association for the Advancement of Sciense (AAAS) e seus artigos são submetidos ao processo de revisão paritária.
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