Para Greenpeace, Dilma representa o "antiambientalismo"

31/08/2010 10:35

Para Greenpeace, Dilma representa o "antiambientalismo"

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Segundo diretor-executivo do Greenpeace Brasil, os presidenciáveis não querem se comprometer

Nos últimos anos, o meio ambiente virou a bandeira principal de alguns políticos espalhados pelo mundo. Lá fora, o ex-vice-presidente americano na era Clinton, Al Gore, chegou mais longe e até venceu o Oscar com o documentário Uma Verdade Inconveniente. Daniel Cohn-Bendit - o Dany, o vermelho -, que liderou as ocupações universitárias na agitação grevista de natureza socialista que se instalou na França, em maio de 1968, hoje é deputado europeu e co-presidente parlamentar do Grupo dos Verdes. Aqui pelas bandas tupiniquins, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva disputa pela primeira vez as eleições presidenciais pelo PV repetindo insistentemente o mantra da "sustentabilidade".

Para tentar entender até onde as questões climáticas influenciam ou não a eleição presidencial brasileira e os desdobramentos das decisões que podem ser tomadas pelo próximo presidente, o Terra conversou com o diretor-executivo do Greenpeace Brasil, Marcelo Furtado.

O diretor da principal ONG ligada às questões ambientais vê com preocupação a ausência de planos específicos para o setor no discurso de dois dos principais presidenciáveis e aproveita para classificar José Serra, do PSDB, como alguém que não liga para o meio ambiente. Furtado enxerga na petista Dilma Rousseff uma postura contrária à defesa de uma agenda ambiental.

Terra - Como o Greenpeace enxerga as eleições. Há alguma diferença central com a anterior? 
Marcelo Furtado - As eleições de 2010 nós identificamos como extremamente importantes porque, em primeiro lugar, o presidente eleito nessa eleição será o negociador do próximo acordo climático, no qual o Brasil provavelmente vai ter restrições às suas emissões. Como tem sido nas últimas eleições, digamos assim, usual que quem se elege presidente acaba sendo reeleito, acreditamos que essa eleição deve ser uma eleição 2010-2018. O segundo elemento importante é que o Brasil ocupa, certamente, um espaço geopolítico muito maior que jamais teve. Não há dúvida de que a economia brasileira vai seguir um ritmo de crescimento e o Brasil já tem um PIB (Produto Interno Bruto) equivalente ao continente africano inteiro. E aí é o seguinte: o Brasil vai ter uma atitude semelhante a que Estados Unidos e Europa tiveram quando esse mesmo fenômeno aconteceu com eles? Agora Brasil, China e Índia serão os atores econômicos. E o nosso modelo de entrada na África como Petrobras, Vale, é diferente? E se não for diferente, ele tem chance de dar certo?

Terra - Não há uma dificuldade dos candidatos à presidência de entenderem todos os fatores que envolvem as questões ambientais? Isso não faz com que eles apenas se digam favoráveis ao combate e desmatamento e não se aprofundem em nada? 
Não há dificuldade de entendimento. É pior que isso. A dificuldade que há é articular o que eles efetivamente estão comprometidos em fazer. Nas eleições de quatro anos atrás, esses temas ambientais e de sustentabilidade eram temas superficiais para a sociedade brasileira. Hoje, você senta em qualquer padaria para tomar um café e as pessoas sabem das mudanças climáticas e o porque delas estarem acontecendo. O que eventualmente elas não sabem é o que devem fazer e o que o governo vai fazer para resolver esse problema. Aí, é um ponto importante onde os candidatos deveriam pontuar.

Terra - A candidata Marina Silva (PV), que prega a sustentabilidade e foi ex-ministra do Meio Ambiente, tem uma votação bastante inferior aos outros com prioridades, na teoria, diferentes dela... 
É uma análise complicada porque tem muito impacto a exposição dos candidatos na TV aberta, que é o grande veículo de comunicação deste País. O Serra, com o tempo que ele tem e já tendo sido candidato antes, ele é uma figura mais conhecida. A Dilma, tendo sido promovida pelo presidente Lula como a sua sucessora, teve mais exposição.... Então, diria que essas pesquisas acabam sendo muito influenciadas pela exposição de mídia que tiveram, mais do que por suas ideias. O cidadão comum tem tão pouco acesso sobre o que pensam os candidatos, que fica difícil.

Terra - Emergencialmente o que deve ser feito pelo próximo presidente? O que o Greenpeace pretende fazer neste período? 
Sobre o pré-sal, em primeiro lugar, o que a gente tem de dados é que não se sabe exatamente quanto petróleo tem lá. Tem uma parte do pré-sal mapeada e tem uma parte que ainda não se sabe. Quando você fala de custo de exploração do pré-sal, tem lugar que você vai furar e vai ter petróleo e tem lugar que vai furar e não vai ter. Então, o custo de perfuração poderá ser o dobro do que estão falando. Dadas as reservas conhecidas de petróleo, é muito provável que não seja o caso de o petróleo acabar e fazer com que a gente tenha que migrar para outras fontes. O que vai acontecer é que a gente não vai mais poder queimar o petróleo. Porque dada a crise climática que a gente vai enfrentar, não só vai ser proibitivo maiores emissões, mas haverá taxações muito mais duras do que hoje.

Terra - Quais são as prioridades máximas para o próximo presidente?
Eu colocaria a Amazônia como primeira, o setor elétrico como segunda, e o pré-sal, em terceiro.

Terra - A agenda ambiental se transformou num dogma nas eleições deste ano. No entanto, você acha que todos os candidatos se compatibilizam com essa agenda? Tem gente falando mais do que deve fazer ou falando pouco e que deve fazer menos ainda? 
Apesar de a gente chamar de "efeito Marina", a sociedade é que está dando eco para as ideias dela. O que significa que a Marina está surfando em uma realidade em que os assuntos ligados a sustentabilidade, hoje, tem penetração e capilaridade na sociedade brasileira. Não é em toda a sociedade, mas é em um conjunto bastante significativo, até maior que os números (da pesquisa) que aparecem em apoio à candidatura dela. Eventualmente você tem pessoas que acreditam no que ela diz, mas que preferem candidatos "x" ou "y". 
Os históricos dos candidatos indicam que o (José) Serra (PSDB) é indiferente em relação ao meio ambiente e a ex-ministra Dilma (Rousseff, do PT) é antiambientalista. Esse é o histórico dos candidatos. Isso obriga aos candidatos, particularmente os principais, Serra e Dilma, a passar outra imagem. Então, o candidato Serra tem de demonstrar que não é indiferente e quais são as idéias dele. E a candidata Dilma demonstrar o que ela não é contra e o que ela é a favor. No caso do candidato Serra, ele até tem a Lei Paulista de Mudanças Climáticas para mostrar que é um cara preocupado. A ministra Dilma poderia dizer que foi ela quem foi para Copenhague e defendeu metas de emissões para o Brasil. Só que quando vem a votação do Código Florestal, tanto PSDB quanto PT votaram a favor do relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB).

Terra - E como o Greenpeace enxerga a candidatura Marina Silva? 
Nossa leitura é que o papel da candidatura foi alavancar a discussão na sociedade para o nível político-eleitoral e para a presidência. Esse é um ponto importante. A gente já tinha conseguido, em alguma escala, que o meio ambiente fosse debatido na política. Mas agora é a primeira vez que ele tem a chance de ficar próximo dos assuntos fundamentais como educação e segurança. Para mim, que trabalho há 15 anos com isso, mudança climática não é um assunto ambiental. É um assunto econômico, político, tecnológico e também ambiental. Mas a parte ambiental é muito mais as conseqüências. O desafio para a Marina é fazer esse diálogo.

Terra - E ela tem conseguido ou tem ficado um discurso difícil, algo vago para eleitores? 
Olha, acho que tem conseguido, mas é importante agora colocar mais exemplos práticos e concretos do que ela vai fazer para atender a isso. Então, ela precisa explicar como será a política social, como serão as políticas econômica e educacional e como elas dialogam com um Brasil que vai emitir menos gases de efeito estufa, gerar mais riqueza e ter empregos de qualidade.

Terra - PSDB e PT ficaram os últimos 16 anos no Palácio do Planalto e, pelo o que apontam as pesquisas, Dilma e Serra são os candidatos com maiores chances de vencer. Dá para traçar um paralelo entre as gestões FHC e Lula quanto ao meio ambiente? 
Ambos os governos fizeram menos do que deviam e do que podiam. No caso do governo Lula, que atravessou uma situação econômica mais positiva e teve uma oportunidade de relacionamento internacional mais favorável, acho que perdemos mais oportunidades. Em termos numéricos, se comparar, os valores acumulados pelos governos não são muito diferentes. Talvez seja real que as questões sociais se desenvolveram melhor do governo Lula do que no governo FHC. Mas do ponto de vista ambiental, no governo FHC não se falou em criação de 50 usinas nucleares como se fala no governo Lula. Ou melhor, até falaram no governo FHC, mas o governo Lula aprovou a usina de Angra 3. Então essa dimensão nuclear-militar teve um espaço no governo Lula que não teve no governo anterior. Na questão Amazônia, os dois empatam e poderiam ter feito mais. Agora, dependendo de como for encaminhada a discussão do Código Florestal, se ela fosse aprovada, o Lula levaria o prêmio do presidente que acabou com o patrimônio amazônico. Há uma tendência no governo Lula a retrocesso na área ambiental em beneficio do social.

 


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